O aumento médio do consumo mundial de água nos próximos anos deve ser de 50%. Universalização dos serviços de saneamento deve levar água potável a 99% dos brasileiros
O aumento médio do consumo mundial de água nos próximos anos deve ser de 50%. E países como o Brasil devem ter aumento em torno de 80%. A tendência de aumento do consumo até 2050 se deve tanto ao crescimento da população como à maior demanda provocada pela universalização do saneamento. É o que aponta o gerente da TNC Brasil, organização não governamental que promove a preservação da água, Samuel Barreto.
“O ponto é que em muitas localidades essa água não vai estar disponível, porque além de se usar além da capacidade de reposição, nós estamos também degradando esses ambientes. Desmatando, poluindo, e aí começa a haver as questões de conflito por escassez”, alerta Barreto.
Segundo o especialista, mais da metade da população brasileira não tem acesso à coleta e tratamento de esgoto, mas terá nos próximos dez anos, com os investimentos previstos no setor, e isso vai gerar um círculo virtuoso: com menos esgoto sendo despejado nos rios, o Brasil conseguirá despoluir mais cursos d’água e, consequentemente, haverá mais do recurso para atender ao aumento da demanda por água potável. Ele destaca a importância do novo marco legal do saneamento nesse processo.
“É preciso avançar com a implementação desse marco legal, porque vai ser uma transformação muito importante do ponto de vista da recuperação dos rios. Porque quando a gente fala de poluição de água, um relatório da ANA (Agência Nacional de Águas) mostra que nós temos algo em torno de 116 mil quilômetros de rios com algum comprometimento. Isso é quase um terço do caminho entre a Terra e a Lua. É o que temos de rios com algum tipo de poluição no Brasil. Investir no saneamento e no acesso à água é fundamental”, destaca o gerente de águas da TNC.
O novo marco legal do saneamento estabelece que 99% dos brasileiros devem ter acesso à água potável até 2033 – hoje, mais de 35 milhões não têm isso. Segundo dados da Agência Nacional de Águas, o atual consumo para abastecimento urbano de água é de 482 mil litros por segundo, algo em torno de 29 milhões de litros por minuto. A previsão é de que esse consumo aumente para 537 mil litros por segundo até 2040. Isso sem contar o aumento da demanda para o setor produtivo e a agropecuária. Atualmente, a irrigação consome 964 mil litros de água por segundo, mas esse número pode saltar para quase 1,8 milhão de litros nos próximos 18 anos.
SEGURANÇA HÍDRICA: Para especialistas, reuso e dessalinização podem ser caminho
SANEAMENTO: Repassados mais de R$ 1,8 mi para continuidade de obras em SE e MS
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) destaca que o Brasil tem muita disponibilidade de água, mas sofre com escassez hídrica por causa do pouco investimento em infraestrutura, principalmente de saneamento.
“A gente não pode ignorar que o baixo investimento em infraestrutura é tão responsável pela crise quanto quaisquer outros agentes. O Brasil tem um índice pluviométrico intenso e a gente é a maior reserva hidrológica do mundo. Se existe crise hídrica, isso se dá por sucessivos governos que deixaram de cuidar desse item tão caro à vida das pessoas. E você pode ter certeza, o maior problema é o saneamento básico”, aponta a parlamentar.
O novo marco do saneamento, sancionado em 2020, e o Plano Nacional de Segurança Hídrica, publicado em 2019, preveem investimentos superiores a R$ 500 bilhões em infraestrutura nos próximos 11 anos para garantir a universalização dos serviços de saneamento básico e a conquista da segurança hídrica. Segundo o setor de Planejamento de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas, caso os investimentos não sejam feitos, estima-se que o Brasil vai chegar a 2035 com mais de 70 milhões de pessoas em situação de risco hídrico, além de acumular perdas econômicas da ordem de R$ 518 bilhões para a indústria e o setor agropecuário.
Fonte: Brasil 61