Economista afirma que aumento do petróleo e das commodities podem afetar inflação brasileira
Após a invasão da Rússia ao território da Ucrânia na última quinta-feira (24), países ocidentais, especialmente EUA e União Europeia, impuseram uma série de sanções econômicas sobre Moscou, numa tentativa de barrar os avanços das tropas russas. No entanto, em um mundo globalizado, como essas punições econômicas podem impactar a economia brasileira?
Nesta quarta-feira (2), o preço do barril do petróleo chegou a US$ 111. As commodities também apresentaram alta na Bolsa de Chicago, já que Rússia e Ucrânia, juntas, são responsáveis pelas exportações de 29% do trigo e 19% do milho em todo o mundo. Os contratos com entrega em maio do trigo tiveram aumento de 5,35% e estão cotados a US$ 9,84 por bushel. O milho teve alta de 5,06% com cotação de US$ 7,25.
O professor de Economia do Ibmec Brasília, William Baghdassarian, afirma que o aumento dos preços das commodities pode aumentar a inflação no Brasil.
“Devemos ter uma inflação [maior] por conta de algumas commodities, principalmente, trigo e milho. Só para lembrar que o frango é uma transformação do milho, porque a indústria de frango é fortemente dependente do milho. Então, na medida que temos uma menor oferta de milho no mercado internacional, temos uma elevação do preço do frango aqui dentro. Devemos ter também um menor crescimento econômico por conta da maior inflação.”
Ele também afirma que o aumento do petróleo pode provocar aumento dos combustíveis.
“Estávamos reclamando quando a gasolina estava por volta de R$ 7, com o barril de petróleo a US$ 90. O barril de petróleo já passou de US$ 100. Então provavelmente vamos ter um impacto sobre o preço dos combustíveis nas próximas semanas.”
“O preço do gás natural também vai influenciar, o que vai trazer um efeito principalmente sobre o mercado de energia elétrica. Muitas usinas são movidas a gás natural e naturalmente o preço desse gás sobe, então o preço da energia elétrica deve subir um pouquinho também para compensar isso”, acrescenta.
O doutor em economia Benito Salomão também afirma que o aumento dos preços das commodities e o desligamento dos bancos russos do Swift podem afetar os preços no Brasil.
“A Rússia é um grande produtor de trigo e isso vai repercutir no preço do trigo, porque a Rússia está impedida de exportar, porque está fora do Swift. Nós estamos vendo o preço do milho e das commodities em geral [aumentar]. No caso do Brasil especificamente, a urgência mais de curto prazo é a incapacidade da economia brasileira importar fertilizantes da Rússia. Porque como a Rússia foi banida do Swift, ela não pode exportar fertilizantes, porque ela não tem como receber por esses fertilizantes.”
Swift
Entre as sanções impostas à Rússia, a União Europeia anunciou que os bancos russos foram desligados do Serviço de Telecomunicações Financeiras Interbancárias (Swift). O sistema de comunicações permite o pagamento e a transferência de recursos entre empresas de diferentes países.
O Swift interliga cerca de 11 mil bancos e instituições financeiras em mais de 200 países, entre eles o Brasil.
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Objetivo das sanções
Para o economista Benito Salomão, as sanções possuem dois objetivos: “asfixiar a capacidade financeira russa para financiar o seu exército e minar a capacidade da Rússia de financiar outras guerras”.
O professor de economia William Baghdassarian explica que as sanções econômicas servem para fazer um contraponto à invasão russa na Ucrânia.
“Na medida que os países impõem essas sanções econômicas à Rússia – e até onde eu me lembro, essas foram as mais duras, eu nunca vi sanções tão duras quanto as que estão sendo impostas – você acaba desarticulando, acaba tirando o ímpeto do governo russo de continuar com essa guerra. Só para a gente lembrar que qualquer guerra custa muito dinheiro.”
O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Antônio Jorge Ramalho, afirma que a Rússia já vem se preparando desde 2014 para este momento.
“Ela hoje tem reservas muito mais vultosas e bem distribuídas. Tem uma parte das reservas em Renminbi, a moeda chinesa. Tem uma parte das reservas em ouro. Reduziu bastante, o que lá em 2014 era perto de 40%, das suas reservas em dólares; hoje isso está em torno de 14%.”
Mas, segundo o economista William Baghdassarian, as sanções impostas desde o último final de semana foram tão sérias que podem ter impacto no mercado interno russo.
“Eles tiveram uma desvalorização do rublo em mais de 30% e a bolsa caiu dessa ordem também. Então quando você começa a sentir dentro do país os impactos disso, o apoio popular à guerra acaba caindo e o presidente acaba sendo obrigado a voltar [atrás].”
Fonte: Brasil 61