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Três Lagoas
13 de julho de 2025.
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É pior que o cigarro comum? O que se sabe sobre os efeitos do uso do vape na saúde

Produtos começaram a se popularizar em meados da década de 2010, especialmente entre o público mais jovem

Nos últimos anos, os cigarros eletrônicos, também chamados de vapes, deixaram de ser vistos apenas como uma ferramenta para parar de fumar e passaram a ser amplamente consumidos por adolescentes e jovens adultos. Pesquisas, inclusive, indicam que o uso dos produtos agrava problemas de saúde mental nesse público-alvo.

Inicialmente vendidos como uma alternativa menos prejudicial ao cigarro tradicional, os dispositivos estão no centro de uma série de estudos que apontam riscos sérios à saúde.

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Veja abaixo o que se sabe até agora sobre os efeitos do vape na saúde, com base em pesquisas científicas e entrevistas com especialistas.

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O que é o vape e por que se popularizou?

Os vapes começaram a se popularizar em meados da década de 2010. Pequenos e com aparência tecnológica, os dispositivos funcionam aquecendo um líquido (geralmente com nicotina e aromas artificiais) que vira vapor e é inalado. Muitos usuários acreditavam que, por não envolver combustão como os cigarros comuns, os riscos seriam menores.

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Contudo, os líquidos usados nos vapes contêm diversas substâncias químicas, incluindo nicotina, solventes e aromatizantes, e algumas dessas substâncias podem se transformar em compostos tóxicos quando aquecidas.

Pulmão

Em um estudo recente, pesquisadores analisaram a névoa de vapes descartáveis populares e encontraram altos níveis de metais pesados (como níquel e antimônio) associados ao câncer de pulmão.

Além disso, o uso contínuo do vape pode causar inflamação nas vias aéreas e nos pulmões, piorando condições como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

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O cigarro eletrônico também causa uma doença pulmonar específica: a Evalique significa “lesão pulmonar associada à vaporização”.

Recente na literatura médica, a condição foi descrita pela primeira vez em 2019, nos Estados Unidos, quando pacientes jovens começaram a ser internados com falta de ar, tosse, dor no peito, náusea, vômito, diarreia, fadiga, febre e perda de peso, segundo o cirurgião torácico pela Universidade de São Paulo (USP), Rodrigo Sardenberg.

Há também casos documentados de “pulmão de pipoca”, uma condição causada pela inalação do composto diacetil, presente em alguns líquidos saborizados presentes nos vapes.

Uso de cigarro eletrônico foi associado a "Pulmão de pipoca" | American Lung Association
Uso de cigarro eletrônico foi associado a “Pulmão de pipoca” | American Lung Association

Coração

Diversos estudos apontam que uma única tragada no vape pode causar efeitos imediatos no sistema cardiovascular. A frequência cardíaca aumenta, os vasos sanguíneos se contraem e, com o uso repetido, há risco de pressão alta crônica, ritmo cardíaco irregular, derrame e até infarto.

Além disso, o aquecimento do líquido pode liberar substâncias como formaldeído e acetaldeído, conhecidas por causarem inflamação e danos aos vasos sanguíneos, contribuindo para doenças cardiovasculares ao longo do tempo.

Saúde bucal

Assim como os cigarros convencionais, os vapes reduzem o fluxo de sangue nas gengivas, favorecendo doenças periodontais, inflamações e infecções bucais. A nicotina pode danificar diretamente o tecido gengival, comprometendo a saúde bucal a longo prazo.

Qual é pior: cigarro eletrônico ou comum?

Sardenberg aponta que um estudo recente da USP mostrou que o vape provoca até seis vezes mais intoxicação por nicotina do que cigarro convencional.

“Ou seja, se a pessoa fuma uma carga por dia, ela está fumando o que corresponde a 50 cigarros”, alerta.

De acordo com Andre Nathan, pneumologista do Hospital Sírio Libanês, a quantidade de nicotina presente no cigarro eletrônico é muito maior do que a do comum.

“Nesse sentido ele é, sim, mais nocivo, porque causa uma dependência química mais rápida do que o cigarro normal, por levar níveis muito maiores de nicotina ao nosso corpo”, explica.

Nathan alerta que outro fator que pode favorecer o vício no vape e, consequentemente, fazer com que ele seja mais nocivo à saúde: permitir o uso dele em ambientes onde o cigarro normal não é permitido.

Segundo o pneumologista Elie Fiss, do Hospital Oswaldo Cruz, da mesma maneira que o cigarro comum, o vape vai afetar o corpo como um “todo”:

“Ele aumenta a produção de ácido do estômago no refluxo; a depender da composição e concentração, causa dor abdominal, náusea e vômito; hipertensão arterial; aumento da frequência cardíaca; irritação nos olhos; alterações de comportamento, dentre outros sintomas”, aponta.

Para ele, o vício é igual ao do cigarro normal.

“É um vício, como qualquer outro, e há jovens que não conseguem se livrar dele”, diz.

Wagner Lauria Jr.

SBT News