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24 de novembro de 2024.
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Histórias por trás da ajuda: quem são os mais de 500 voluntários da FN-SUS no RS


Criada em 2011, a Força Nacional do SUS existe graças a atuação de voluntários, que recebem apenas ajuda de custo para atuar em desastres, epidemias ou quando a capacidade de resposta do estado é esgotada

São técnicos, enfermeiros e médicos que encontram na ajuda ao próximo sua maior motivação. Os voluntários da Força Nacional do SUS não buscam recompensas salariais, mas a chance de oferecer auxílio, cura e esperança. Nos últimos dois meses, em meio ao estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul, eles se destacaram e continuam no trabalho de apoio à população afetada pelas enchentes. Em momentos de catástrofes e tragédias, deixam seus lares e famílias para prestar solidariedade onde há carência de tudo.
 
Desde o início de maio, a Força Nacional do SUS (FN-SUS) já prestou mais de 19,6 mil atendimentos frente à maior tragédia climática que já atingiu o estado. Os profissionais voluntários atuam nos hospitais de campanha, em equipes volantes, de saúde indígena e de saúde mental para a população gaúcha. Mais de 500 voluntários estão mobilizados desde o início da atuação do Ministério da Saúde entre médicos, enfermeiros, técnicos e farmacêuticos. 
 
Antes da tragédia do Rio Grande do Sul, o banco de voluntários cadastrados na FN-SUS tinha cerca de 70 mil voluntários cadastrados. “Após as chuvas, o número de voluntários chegou a aproximadamente 100 mil”, revela a coordenadora de Planejamento da FN-SUS, Conceição Mendonça.
 
Serão 15 dias de caminhadas e atendimentos em uma das cidades mais destruídas pelas enchentes — Eldorado do Sul (RS). A enfermeira Mariana Beraldo, de 35 anos, deixou em Piracicaba (SP) o filho de quatro anos, o namorado, pais, amigos e o trabalho. Ela atua como enfermeira do SAMU e se inscreveu na Força Nacional para ajudar da forma como melhor sabe fazer: na assistência. 
 
“Nossa equipe de saúde está dando apoio para o município e, a cada dia, eles [moradores] têm uma necessidade. Ficamos em tenda, auxiliando no atendimento. Hoje, estamos fazendo território, indo nas residências, atendendo os pacientes domiciliados. Eldorado do Sul foi uma das cidades mais atingidas e mais evacuadas. Por isso as pessoas ainda estão retornando”. 
 
A enfermeira Mariana Beraldo (centro) e equipe em Eldorado do Sul (RS). Voluntários da Força Nacional do SUS atendem pacientes em domicílio e em abrigos. Foto: Mariana Beraldo/Acervo pessoal

Na equipe da Mariana, são 60 voluntários — de vários locais do país — que se subdividiram. A enfermeira relata que cada grupo atua num campo diferente. “Tem gente em Canoas, Porto Alegre, São Leopoldo. Aqui, em Eldorado, estamos em cinco: um médico, duas enfermeiras e duas técnicas em enfermagem, mas o tamanho e a configuração das equipes são decididos de acordo com a necessidade de cada local”, explica a enfermeira da Força Nacional do SUS.
 
A escolha dos voluntários para cada missão, assim como a experiência deles em determinados tipos de ação, são considerados nessa distribuição de tarefas, como detalha Conceição Mendonça.
 
“De acordo com a experiência profissional de cada voluntário. Nos critérios estabelecidos, definimos possuir entre 2 e 5 anos de experiência comprovada na área de atuação, avaliação curricular, cadastro regular nos conselhos de classe, capacidade emocional para cumprir orientações do comando local, capacidade de lidar com situações de vulnerabilidades”. Segundo a gestora, todos esses critérios são cuidadosamente avaliados por uma equipe do Ministério da Saúde, que realiza contato com cada voluntário.

Força Nacional do SUS: experiência que ajuda 

A enfermeira Mariana já atuou em outras emergências e no voluntariado. Em 2018, foi para Roraima atuar na Fraternidade sem Fronteiras, no atendimento aos refugiados da Venezuela. Como servidora pública do município paulista, ela consegue licença do SAMU e é cedida às missões.  
 
Na mesma equipe de Mariana está o doutor Anísio Virgolino da Silva Filho, de 46 anos, médico intensivista do SAMU, em Natal (RN). Além do trabalho na Urgência e Emergência na capital potiguar, ele tem oito anos de experiência como médico da Marinha, em ações sociais e resgates – o que, segundo ele, aumentaram a bagagem frente aos desastres. Ciente da experiência do médico, a chefe da rede de Urgência e Emergência do Rio Grande do Norte identificou nele o perfil ideal para a missão. “No domingo, ela me perguntou se eu queria vir. Na segunda-feira, eu já estava aqui”, revela o integrante da força.
 
Atuando como o único médico da equipe, Anísio diz que a população de Eldorado do Sul está num período de reconstrução — já que a cidade foi completamente devastada. “O que a gente notou é que eles não estão muito preocupados com a saúde, eles estão mais preocupados em limpar, em reconstruir. A maioria dos atendimentos que a gente vem fazendo é para o pessoal que faz uso de medicação contínua e precisa renovar as receitas e pegar as medicações”.
 
Assim como a enfermeira Mariana, o doutor Anísio também deixou em casa filhos, amigos e trabalho para auxiliar a população gaúcha. No cenário desolador que encontrou no Sul, ele ouve e reconta histórias da população. Gente que só carrega como bagagem o que há de mais importante — a vida. “O que escutamos é que muitos não irão retornar, porque realmente perderam tudo e não têm condições de retornar à cidade. Aqui, ainda está bem vazio, o cenário ainda é de muito lixo na rua. Várias equipes de limpeza estão retirando os escombros, mas ainda tem muita coisa para ser reestruturada”, descreve. Segundo o médico, a atuação da equipe da Força Nacional do SUS tem focado em não retirar essas pessoas da rotina, “para tentar não atrapalhar”. 
 
E a ajuda da Força Nacional do SUS tem feito a diferença nos abrigos. Quem atesta é Sinara Mesquita, de 63 anos, moradora de Canoas (RS). Durante o trabalho que fez de voluntariado, no acolhimento a desabrigados na cidade, ela ouviu relatos de gratidão. “Inclusive, uma senhora estava muito agradecida, dizendo que estava sendo tratada de uma forma que ‘nem em casa era tratada’. Ela contou que, todas as manhãs, os voluntários iam até os abrigos medir a pressão e a temperatura dos idosos; todas as noites, iam até os abrigos levar medicação”. 
 
Para Sinara, a presteza, a agilidade e a qualidade do serviço prestado pela Força Nacional do SUS fizeram “toda a diferença na saúde das pessoas atingidas”. 

Força Nacional do SUS: o que esses voluntários recebem como recompensa?

A equipe da Mariana e do Anísio vai voltar para casa em breve, mas um outro exército de inscritos na Força Nacional do SUS estará a postos para embarcar nas próximas missões que surgirem. Sem recompensa financeira, sem conforto para dormir, trabalhando muitas horas por dia. 
 
A recompensa? Quando questionado sobre o retorno de todo esse trabalho, o médico sequer titubeia. “A gente não procura recompensa, a gente fica feliz em ajudar”, resume Anísio.
 
Um sentimento compartilhado por Mariana: “Amo muito o que faço e ajudar as pessoas é o que me move. Sempre que vejo que há necessidade e tem uma forma de me inserir naquilo, eu vou. É instintivo”, completa a profissional.

Força Nacional do SUS: como funciona

Criada em 2011 como um programa de cooperação, a Força Nacional SUS trabalha para prevenir e dar assistência diante de situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população quando for esgotada a capacidade de resposta do estado ou município.
 
Qualquer profissional de saúde — da iniciativa pública ou privada — de todo o Brasil pode fazer parte da FN-SUS, para isso é preciso entrar no formulário disponível no site do Ministério da Saúde e fazer o cadastro de voluntários. 
 
“São profissionais de saúde dos serviços públicos. Dentre eles, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, psicólogos, gestores públicos, sanitaristas, epidemiologistas, especialistas em desastres, com perfil para atendimentos voluntários, principalmente especialistas em urgência e Emergência, maioria da Rede SAMU, em Atenção Primária de Saúde, em Atendimento Aeromédico, gestores com experiência em avaliação de risco, diagnóstico situacional. São capazes de traçar as necessidades de saúde para a população atingida com resposta coordenada, rápida, eficaz, objetivando salvar o maior número de pessoas afetadas”, conclui Conceição Mendonça. 
 
Para conseguir licença do trabalho, o Ministério da Saúde envia um ofício para a chefia do profissional que, juntamente com a sua chefia, organiza a sua escala de trabalho durante o período da missão. Apesar de não receberem salário, a FN-SUS disponibiliza passagens para o voluntário do local de residência até o local onde ocorrerá a missão. Além disso, são fornecidas diárias para o custeio com alimentação e estadia.
 

Fonte: Brasil 61