Comércio e serviços puxam geração de empregos formais; rendimento real também cresceu acima da inflação, o que pode mostrar “esgotamento da mão de obra”, avalia especialista
O mercado de trabalho vem apresentando sinais de recuperação e fortalecimento ao longo dos últimos trimestres. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o país criou 1.051.244 postos com carteira assinada entre janeiro e maio de 2025. Só nos últimos três meses, foram mais de 1 milhão de novas vagas, somando trabalhadores CLT, autônomos e PJs.
O número de empregados com carteira assinada chegou a 48,2 milhões, enquanto o total de trabalhadores sob o regime CLT já atinge 39 milhões — o maior da série histórica. Além disso, o desemprego está próximo de sua mínima histórica, em 6,1%, índice que representa uma trajetória de forte queda desde o pico de 15% em 2020, durante a pandemia.
O que permitiu esse aumento?
Segundo o economista André Galhardo, da consultoria Análise Econômica de São Paulo, o fortalecimento do mercado de trabalho está diretamente ligado a uma melhora geral nos indicadores macroeconômicos e a uma retroalimentação positiva do próprio emprego formal.
“O que tem sustentado esse movimento forte no mercado de trabalho é uma espécie de ciclo virtuoso. É o mercado de trabalho forte que aumenta a renda das famílias, que por sua vez traz um volume de consumo mais forte, que abre espaço para que os empresários contratem mais”, afirma Galhardo.
Ele explica que, embora existam outros vetores de crescimento, o próprio ambiente de contratações contribui para manter a engrenagem girando.
“É como se o próprio mercado de trabalho estivesse sustentando a melhora do mercado de trabalho. A renda das famílias tem subido – de forma tímida, dentro do trabalho CLT, é verdade –, mas isso melhora o ambiente de consumo, que por sua vez acaba permitindo novas contratações.”
Setores de comércio e serviços lideram geração de empregos
Os setores de serviços e comércio foram os grandes responsáveis pelo bom desempenho do mercado formal de trabalho em maio. Juntos, eles criaram 93.397 vagas com carteira assinada no mês — 70.139 nos serviços e 23.258 no comércio — o que corresponde a 70% do total de 148.992 novos postos formais.
No acumulado do ano, de janeiro a maio, os dois segmentos também lideraram a geração de empregos: o setor de serviços criou 562.984 vagas, um crescimento de 2,44%, enquanto o comércio adicionou 56.708 postos, alta de 0,54% em relação ao mesmo período de 2024.
O economista André Galhardo destaca que a baixa taxa de desemprego também começa a revelar desafios para setores intensivos em mão de obra.
“Nós temos uma taxa de desemprego de 6,2% no trimestre encerrado em maio. Essa taxa é uma das mais baixas de toda a série histórica e indica uma possibilidade de estarmos próximos do esgotamento do mercado de trabalho. Alguns setores, como o da construção civil, já mostram dificuldade de encontrar funcionários para executar as funções.”
Salários crescem acima da inflação
O levantamento mostra ainda que a renda real do trabalhador cresceu 3,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, ou seja, acima da inflação acumulada. Isso significa um ganho efetivo no poder de compra das famílias, o que também retroalimenta o consumo e o próprio mercado de trabalho.
Galhardo explica que os dados de renda reforçam o momento de aquecimento, mas também alertam para uma possível limitação da capacidade de expansão do mercado:
“A renda tem crescido de forma consistente. Isso indica duas coisas: primeiro, um dado positivo, já que você está entregando mais salário na mão do trabalhador, o que se traduz em mais consumo. Mas indica também um mercado de trabalho sobreaquecido. Quando você tem menos trabalhadores à disposição, isso acaba fazendo com que o nível de renda e o salário suba.”
O economista, no entanto, pondera que o cenário pode mudar nos próximos meses:
“A gente espera, sim, uma desaceleração no segundo semestre. Isso acontece porque o período tem menos drivers de crescimento e porque vamos começar a sentir com mais força os impactos defasados da política monetária, especialmente da Selic elevada. Ainda assim, por ora, os números são muito positivos.”